sábado, 30 de julho de 2011

O Sim depois do amanhã!

por Caetano Scannavino Filho (*)

Santarém, 12 de dezembro de 2011 – Com o encerramento às 17h de ontem da consulta popular sobre a divisão do Pará e o inicio do processo de apuração com o “NÃO” largando na frente – como previsto já que as urnas da capital foram as primeiras a serem abertas – somente hoje com a contabilização dos votos do interior pode-se afirmar de forma oficial que o resultado do plebiscito é…

(1) “NÃO”:
Divisão não aprovada após meses de embate apaixonado pró e contra como uma final de campeonato, com emoções a flor da pele entre regiões que de certa forma já vivem separadas, o que fazer no dia seguinte ao plebiscito?

Nada. O melhor é tomar um banho nas praias do Tapajós, Tocantins ou de Mosqueiro, evitando manifestações ainda no calor da disputa que possam aguçar ainda mais a rixa entre os Parás, como os vitoriosos humilhando os derrotados e estes, não reconhecendo o resultado das urnas. Alimentar ódios entre irmãos será um ato no mínimo irresponsável e inconseqüente.

Mas passado este dia para esfriar a cabeça, no amanhã o processo tem que ser retomado com todas as forças. Negar o Estado não pode significar negar o problema, que continua e não se resolverá tampouco se esgotará com a mera realização do plebiscito que resultou na manutenção das fronteiras paraenses.

A disputa em questão vai além do perder ou ganhar. É um assunto muito mais sério do que uma partida de futebol (sem querer desmerecer essa paixão nacional), que diz respeito as condições de vida de milhões de paraenses, o que exigirá de todos – principalmente dos que optaram pelo não – a união em torno da responsabilidade solidária na busca por soluções mais permanentes e definitivas às problemáticas que justificaram o clamor das populações do interior do Estado pela emancipação. Responsabilidade esta também do Brasil, não apenas dos paraenses.
Portanto, a luta continua…

(2) “SIM”:
Depois do debate acalorado e aprovada a divisão do Pará, o que fazer no dia seguinte? O banho de rio continua recomendado para recuperar as energias diante dos grandes desafios que virão no amanhã.

Energias essas fundamentais, de imediato, porque, ao contrário do que muitos imaginam, o “sim” das urnas não é garantia de criação dos novos estados, já que trata apenas de uma consulta popular por vias plebiscitárias – como afirma o próprio autor do projeto no Congresso, senador Morazildo Cavalcanti.

Isto quer dizer que, ocorrido o plebiscito, o assunto sai do Pará e vai para o Brasil, representado pelo seu parlamento. Eis uma razão a mais para levar desde já o debate para o âmbito nacional.

Em seguida, se consumada a divisão do Pará pelo Congresso, novas energias se farão necessárias porque inicia-se um novo ciclo de debates, mais regionalizado entre os atores residentes de cada uma das áreas desmembradas, que vai ser definir com mais concretude o estado que queremos.

Inevitavelmente, o quadro de união que se viu entre os tapajônicos ou carajaenses no período pré-plebiscitário mudará, dando lugar às visões múltiplas e embates locais na construção do “DNA” de cada uma destas embrionárias unidades federativas, a começar pelo processo de elaboração da nova Constituição Estadual.

Há vários caminhos para isso. Talvez por ser menos trabalhoso e tão cômodo como fazer um “copiar-e-colar”, alguns vão querer apenas replicar de forma automática o processo ocorrido no século passado quando foram criados novos estados.

Mas porque não arregaçar as mangas e construir algo moderno, digno do Terceiro Milênio. Ao invés do “mais do mesmo” ou de importar modelos prontos do sul – hoje admitidos como insustentáveis e com prazo de validade – pode-se vislumbrar o inverso, aproveitando as boas experiências de fora, mas criando algo próprio e adequado as identidades, vocações e diversidades socioculturais da região, que poderão inclusive servir como referencia para os demais entes federativos do país.

E condições para isso seriam mais do que favoráveis e oportunas. Primeiro, porque poderá contar com ampla participação da sociedade, diferentemente das experiências anteriores, que aconteceram durante o regime militar ou logo em seguida à democratização do País, quando a sociedade civil não estava ainda tão organizada e estruturada como nos tempos atuais.

Segundo, pelo fato da responsabilidade fiscal estar arraigada na população – traumatizada depois de décadas convivendo com alta inflação – o que facilita a planificação de uma estrutura estatal menos custosa, mais otimizada, eficiente e eficaz.

E terceiro, pela inclusão dos princípios da sustentabilidade ambiental – não tão evidente até 20 anos atrás e que veio para ficar, sobretudo em se tratando de Amazonia – podendo configurar a Carta do novo Estado como a primeira Constituição verde do país.

Pelo SIM ou pelo NÃO, a luta continua…

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* Reside em Santarém. É coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria.

Publicado no blog do jeso (jesocarneiro.com.br)

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