domingo, 30 de dezembro de 2007

O Pará de Belém, sem Santarém, sem Marabá


por Jota Ninos (*)

Definitivamente e oficialmente já não fazemos parte do Pará. Isso fica mais explícito na última campanha do ano do “Governo do Pará”, desejando-nos um Feliz 2008. O vídeo destaca as belezas da terra, com imagens bonitas sobre hábitos, costumes e riquezas naturais, e é embalado por um jingle que fala das coisas do Pará, mas é tão... Belém!

A única imagem em que se consegue identificar a existência de Santarém está em um frame (pequena parte de um vídeo) de milésimos de segundo, mostrando o encontro das águas em frente à cidade. Além disso, vê-se imagens do carimbó de Marapanim e dança de índios, talvez de Altamira. Pode até haver outras imagens desta e de outras regiões, mas nada que seja facilmente identificado.

A letra do jingle fala de nossa riqueza cultural e cita o maestro Waldemar Henrique como grande expoente da música paraense. Nada contra, mas e o nosso Maestro Isoca? Fala-se dos reis do carimbó Verequete e Pinduca, fala-se até do tecnobrega, das guitarradas e do Calypso, mas nem cita-se um Sebastião Tapajós, por exemplo, ou qualquer outro expoente da cultura de outras regiões do Pará. Nem mesmo os festivais do Boto em Santarém ou das tribos em Juruti!

Definitivamente, Belém é o Pará. O resto é interior e não vale a pena colocar na mídia. Talvez por isso Abaetetuba tenha sofrido com os desvelos da atual administração. Talvez por isso nosso hospital regional segue a passos de cágado. Para o interior, só notícia ruim na mídia nacional.

A coisa está tão feia que o vídeo institucional do “Governo do Pará” nem sequer utiliza um dos cartões postais que é muito conhecido mundo afora, a ilha de Alter do Chão (pelo menos não consegui identificá-la)!

Recentemente estive em um encontro sobre “rádio no Pará”, mas o interior ficou relegado ao segundo plano nas mesas de debate. Acabei participando de uma das mesas de “enxirido” e não deixei de registrar meu protesto pela exclusão do interior, onde existe vida pujante no rádio. Alguns radialistas se espantaram em saber que aqui existem cinco emissoras de rádio em funcionamento! E o site criado pela UFPa. que fala da história do rádio no Pará refere-se basicamente à história do rádio de Belém e ignora, solenemente, que Santarém tem uma história de 60 anos de rádio que se completam em 2008! Fica a conclusão de que os comunicadores em geral, radialistas, jornalistas e publicitários nos ignoram.

Mas de certeza, quando começar a campanha na mídia pelo plebiscito do novo estado, todos eles falarão de um “Pará único” ou de “intenções separatistas de aventureiros”.

Aproveitando a deixa, pergunto: quando será que os empresários locais despertarão para investir no movimento que abnegados, como Ednaldo Rodrigues e outros, realizam com seu próprio esforço? Se somos ignorados por aqueles que fazem a mídia, institucional ou não, como poderemos enfrentá-los quando a campanha esquentar, já que ao nos ignorarem solenemente estão criando antecipadamente a mensagem subliminar para desconsiderar os ideais do futuro estado?

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* É jornalista.

fonte:blog do jeso, 29/12/2007

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Tapajós: os frutos da cidadania


Ednaldo Rodrigues

Jornalista santareno, secretário-executivo do Movimento pelo Plebiscito do Novo Estado [Tapajós].


O Movimento pelo Plebiscito do Novo Estado encerra o ano de 2007 com resultados positivos, com reflexos a todos os municípios que comporão a nova unidade federativa, na região Oeste do estado do Pará. Apesar das dificuldades de ordem financeira, das limitações de recursos humanos especializados e dos entraves provocados pelas forças contrárias ao projeto, representados pelo poder econômico e político concentrados na capital, nos últimos dois anos, sem desmerecer a luta antecedente, o Movimento conquistou benefícios imensuráveis em favor da população da região.

Em 2006 deflagrou uma campanha de conscientização e de valorização do voto regional, em plena campanha eleitoral, reforçando a necessidade do fortalecimento da representação política na Assembléia Legislativa do Pará e na Câmara Federal. A campanha feita com base no compromisso dos eleitos com a região, mas sem bairrismo ou partidarização, respeitando a vontade dos eleitores, mas deixando claro que a falta de representação em Brasília e em Belém renderam, nas duas últimas décadas, sérios prejuízos à nossa gente. Como resposta a esse apelo do Movimento e da Associação empresarial, à população do oeste do Pará elegeu dez deputados estaduais, um deputado federal e o vice-governador, que por 18 anos liderou a antiga Frente Popular do Estado do Tapajós.

Em 2007, o Movimento trabalhou de forma planejada e sistemática, profissionalizando alguns setores e conseguiu apoios importantes da sociedade, tais como: Prefeitura e Câmara Municipal de Santarém, Secretarias de Agricultura e Abastecimento, Turismo e Integração Regional, Trabalho e Assistência Social, de Associações Empresariais e da população. Em 2007, a população também atendeu ao chamado do Movimento, com o maior intercâmbio realizado entre os municípios do Oeste do Pará, para participar do maior abaixo-assinado já realizado no Pará. Com o desdobramento da campanha de coleta das 500 mil assinaturas, resultou a maior mobilização da história da luta do Novo Estado, em Brasília com a participação direta de prefeitos, presidentes de câmaras, presidentes de associações empresariais, representantes de segmentos sociais e ambientais, totalizando 57 autoridades, que pediram urgência na votação e aprovação do projeto 0731/2000, que autoriza a consulta plebiscitária, visando a criação do Estado do Tapajós.

Todas essas ações desencadearam uma grande rede de articulações em prol do Novo Estado, o maior projeto de desenvolvimento social, econômico, político e ambiental da região norte do Brasil. Essas ações forçaram o governo do Pará, a repensar sua atuação em todos os municípios oeste paraense. Com esse novo olhar a região tem recebido do Governo Estadual e do Governo Federal benefícios que podem minimizar o sofrimento de uma população historicamente abandonada e esquecida, embora não seja suficiente para baixarmos a bandeira de nossa luta que é a criação do Estado do Tapajós.

O Movimento apesar de ter lutado diuturnamente em prol do seu êxito maior que e a aprovação do plebiscito e, não ter conseguido o intento, pode se considerar uma das entidades mais atuantes e necessárias à população da região, por ter contribuído com grande parte dos benefícios que os municípios têm recebido e podem receber daqui para frente. O Movimento tem feito em prol da população oeste paraense o que muitas lideranças políticas não conseguem fazer, ou seja, uma oposição firme, perseverante, comprometida e responsável cobrando os investimentos e melhor qualidade de vida que é um Direito Constitucional dos cidadãos.


O Movimento tem cumprido com o seu papel cidadão, pleiteando as demandas não somente para Santarém, mas para toda a região de abrangência do Novo Estado. Quem ganha com isso é a população. O Movimento ainda oferece uma grande ajuda às prefeituras da região quando consegue fazer com que o governo do Pará sinta-se obrigado a investir nos municípios para abafar o anseio da emancipação. Tudo isso, são frutos de nossa cidadania.

Os prefeitos e representantes políticos do Oeste do Pará, portanto, precisam compreender que todas as ações que vão ser feitas na região decorrem da necessidade do Governo do Estado reverter à idéia da criação do Novo Estado. Em 2008, as Prefeituras, as Câmaras, os empresários e as entidades socialmente organizadas precisam fortalecer ainda mais a parceria com o Movimento visando à aprovação do projeto e carreando mais investimentos à região, possibilitando um real crescimento sócio-econômico que beneficie as pessoas. Por outro lado, apesar dos investimentos injetados aos municípios da região, nossas lideranças políticas e a população não podem perder de vista o maior e mais importante projeto, ou seja, o plebiscito e, consequentemente, o Estado do Tapajós.

fonte: blog do jeso, em 28/12/2007



quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Artigo do Geólogo José Waterloo Leal



O Estado do Pará e a redivisão municipal: necessidade básica de gestão

O Estado do Pará, como já foi dito inúmeras vezes, ocupa uma grande superfície territorial, maior, inclusive, que muitos países da Europa, respondendo por 1.247.689,52 Km2, equivalente a 14,6 % do território brasileiro. Sem dúvida, um Estado com dimensões de país e por isso, precisa refletir dentro desse foco, para se organizar géo-politicamente, de forma a facilitar sua gestão político/administrativa, fato este não realizado, até hoje.

É preciso análises e reflexões sobre como os outros Estados brasileiros, se organizaram dentro deste enfoque, procurando assimilar os resultados e a situação de cada um desses exemplos, inclusive, os seus estágios atuais de desenvolvimento, principalmente, o sócio-econômico.

O Estado das Minas Gerais, com superfície territorial de 586.528,29 Km2, está dividido em 853 municípios, onde a média territorial municipal é de 687 Km2. Outro exemplo é o Estado do Rio de Janeiro, com território de 43.696,05 Km2, menor que o município de Itaituba, está dividido em 92 municípios, ressaltando uma média territorial de 475 Km2. Um terceiro modelo é o de Santa Catarina, com 95.346,18 Km2, menor que o município de Altamira e dividido em 293 municípios, produzindo uma média territorial municipal de 325 Km2.

São três Estados desenvolvidos, a nível Brasil, aonde a subdivisão municipal otimiza a gestão e é papel preponderante, inclusive, na injeção de repasses constitucionais, melhorando a circulação de recursos financeiros, gerando, por conseqüência, mais emprego e renda.

Na outra ponta, temos exemplos de Estados pouco subdivididos em municípios, que respondem de forma inversa. São pouco desenvolvidos, e apresentam poucas opções à suas populações, contribuindo, dessa forma, para o inchaço das capitais, provocando a geração de cidades sem tempo de planejamento e com pouca oferta de serviços sociais e principalmente, criando grandes cinturões de miséria.

O Amapá é um desses Estados, com área territorial de 142.814,59 Km2, que está dividido em apenas 16 municípios, apresentando média de 8.926 Km2, por município.

Outro Estado desse grupo é o Amazonas, com área de 1.570.745 Km2, dividido em 62 municípios, com média territorial municipal de 25.335 Km2.

A mesma situação é apresentado pelo Estado do Pará, onde municípios gigantescos, com poucos recursos financeiros, são impossibilitados de atender as demandas municipais, principalmente as necessidades sociais dos mais pobres. Os números do Estado revelam que os 1.247.689,52 Km2 de área territorial, estão divididos em 143 municípios, com média de 8.725 Km2, por município, resultado este, que dificulta muito, a gestão territorial Estadual.

Em conclusão indiscutível do prejuízo auferido pelo Estado, em conseqüência da pequena subdivisão municipal, pode ser visualizado quando se compara os repasses do Fundo de Participação dos Municípios – FPM, ocorridos no ano de 2006. O Estado do Pará, com 1.247.689,52 Km2 de área territorial, população de 6.894.614 habitantes (IBGE 2007) e subdividido em 143 municípios, recebeu naquele ano R$ 1.070.364.464,55 (total de repasses aos municípios) enquanto Santa Catarina com apenas 95.436,18 Km2, população de 5.866.568 habitantes e subdividido em 293 municípios, recebeu de FPM, R$ 1.145.345.954,67 (total de repasses aos municípios).

MUITAS VEZES, É PRECISO PRIMEIRO DIVIDIR, PARA DEPOIS MULTIPLICAR.

José Waterloo Leal
Cidadão Itaitubense e Geólogo