terça-feira, 30 de outubro de 2007

Artigo do empresário e cronista obidense MIGUEL CANTO, postado em abril/2007 no Portal de Óbidos (www.portaldeobidos.com.br)


AS DÚVIDAS DO SEPARATISMO
Miguel Canto - miguelccanto@hotmail.com

Esplendoroso eu diria está se transformando o debate sobre a divisão política do Estado do Pará. Salutar eu também diria porque oportunizando todas as camadas da sociedade, permite uma liberdade de expressão que empolga pelo conteúdo e com absoluta certeza solidificará idéias para o juízo final do problema.

A participação no debate dos notáveis da literatura regional deixa bem claro a dimensão do trabalho que será feito para a conscientização dos responsáveis pela decisão que envolve políticos e população ao mesmo tempo.

Refiro-me aqui ao delicado assunto apoiado em alguns conhecimentos adquiridos pela longevidade do problema, que já me proporcionou até a oportunidade de participar de uma embaixada junto com alguns políticos desta área, até Brasília, diga-se de passagem, com as minhas despesas incluindo passagem aérea, sob minha inteira responsabilidade para ouvir as opiniões de renomados congressistas como deputados e senadores, sobre a criação do Estado do Tapajós.

Na verdade o que mais estava me interessando no momento era mesmo conhecer um pouco mais aquela monumental estrutura onde funcionam os poderes de mando e desmando que atingem a todos nós, tudo sob a égide do tão famoso Estado Democrático

Deixando de lado as opiniões demagogas, as mais sinceras e as mais centradas incluindo até mesmo a do senador na época, Jarbas Passarinho paraense como nós eram todas negativas. O argumento principal era apoiado justamente no que se ouve até hoje. Falta de infra-estrutura que além de penalizar a união, tirava do Estado do Pará uma das áreas mais interessantes em riquezas naturais, fonte da arrecadação de impostos mantenedores dos mais de cem municípios que contém o Estado. Além disso, um novo Estado só serviria para satisfazer determinados interesses pessoais de alguns políticos da região e acabaria sobrando para nós, a população, os encargos pertinentes através de impostos para o funcionamento das autarquias inerentes a composição do novo Estado.

Nós que moramos em Óbidos, e disso nos orgulhamos, não concordamos com esses argumentos e conseqüentemente não temos dúvidas que o melhor seria a divisão. Deixando de lado o “bairrismo”, temos que admitir que a presença do Estado do Pará em Óbidos se resume atualmente, às visitas eleitoreiras em véspera de eleições. A menos que estejamos muito mal informados, nada justifica querermos permanecer no estado de abandono imposto pelos órgãos estatais, sobrecarregando de encargos a administração municipal que vive se arrastando nessas conseqüências. Enquanto isso, apesar da divulgação de todo o mar de lama abrigado no seio da corrupção nacional, se argumenta que a união não teria como subsidiar a estrutura do novo Estado. Será que dá para acreditar?

Preferimos apostar que o maior prejuízo seria na verdade para os políticos atuais contestadores do projeto. O que se torna urgente e necessário é mesmo o surgimento de novas lideranças para que possam estar mais próximas do poder central do Estado e conseqüentemente dos problemas esquecidos por uma administração distante formatada em interesses meramente particulares.

Nossa preocupação pelo abandono de Óbidos se torna pertinente quando sabemos do grande número de pacientes do hospital da Santa Casa de Misericórdia, (o único existente), que são diariamente despachados para morrer em casa por falta de leitos para acolhê-los. Temos absoluta certeza que se a administração central estivesse mais perto, o assunto já teria tomado outras dimensões, outro direcionamento.

Estão construindo em Óbidos um novo hospital. Será que ele será concluído? Aqui para nós a novidade na demagogia política é começar as obras com muito alarde e abandonar a construção durante a primeira etapa de maneira cínica e calada deixando tudo para a próxima administração. Temos como exemplo a construção de um famoso terminal hidroviário. A construção inacabada do velho cais de arrimo que representa vergonhosa imagem para quem visita nossa cidade além de grande ameaça para quem passa por perto dos prédios da primeira rua que se encontram em zona de risco pela invasão das águas do rio Amazonas. E também a construção do prédio do Poder Legislativo Municipal onde até as placas de propaganda já não existem mais.

E por não sabermos quem é quem na escala das responsabilidades, que venham nossas aspirações. Vamos apostar na geografia que nos aproxima. Vamos apostar em novas lideranças que certamente surgirão menos comprometidas e mais presentes nos problemas que chegam a gerar grande preocupação para quem vive nesta região.

Que venha o novo Estado do Tapajós.

sábado, 27 de outubro de 2007

Divisão do Pará




Parsifal Pontes, Deputado Estadual, PMDB/PA


Sempre que se inicia uma legislatura volta à baila a questão da divisão do Pará. O deja vu, não dura: quando as partes que desejam a divisão são envolvidas pela rotina do parlamento, a inércia, na qual os contra apostam, arrefece os ânimos.

A discussão se tem dado em soluços de querência de uns e arroubos de gentilismo telúrico de outros.

Atenho-me, nesta feita, a dois aspectos do fato: um social e outro constitucional.

Argumento preferido dos que são contra a divisão: políticos sem escrúpulos, que se querem locupletar da divisão, para serem governadores, senadores e deputados, é que estão por trás de tudo.

Isto não é um argumento e sim uma provocação maniqueísta que induz ao pernóstico, quando, de forma cartesiana, divide os políticos paraenses entre bons e maus: os bons são contra a divisão, os maus são o resto.

A coisa posta desta forma transforma-se em uma querela incauta e cultiva recalques. Torna-se o argumento, pelo seu conteúdo insensato, em discurso da cizânia. Neste aspecto a disputa é colegial. Na base do acerto contigo lá fora.

É necessário repetir que o argumento é desprovido de qualquer valor cientifico, pois a sua aplicabilidade resultaria em um absurdo: há políticos inescrupulosos porque há pessoas inescrupulosas.

Os políticos não se tornam inescrupulosos pelo fato de terem sido eleitos: elegem-se pessoas inescrupulosas para serem políticos. A política não dá e nem tira caráter à ninguém, apenas releva o de todos.

Nesta linha se demonstra o absurdo do raciocínio: o Pará, sem se dividir, não deixa de ter a sua parcela de políticos inescrupulosos, deixar-lhe com a atual formação geopolítica não a livra deles.

Na democracia, cabe ao eleitor, bem ou mau, selecionar os seus representantes. Isto remete ao outro ponto: o constitucional.

A Carta da República determina que a deliberação para criar estados se dá através de manifestação direta do cidadão, em forma de plebiscito.

A Carta retirou este poder da democracia representativa, deixando-o nas mãos do eleitor, que o exercerá em seu próprio nome e responsabilidade, assim como o faz para eleger seus representantes: pelo voto.

A discussão da divisão do Pará dever-se-ia estar dando dentro do processo plebiscitário, pois todos os requisitos que autorizam a realização do sufrágio direto para a questão, estão claramente evidenciados, faltando, tão somente o Parlamento Federal, a quem cabe o ato, marcar a data da manifestação popular.

Ignorar a clara vontade de manifestação das partes interessadas, que não são somente os políticos inescrupulosos, mas considerável parcela da população do Pará, e porque não dizer toda a população, pois mesmo os que são contra têm a pretensão de dizer que o são, é violentar a Carta, cuja lavra é assegurar aquele exercício.

Neste sentido, a discussão, seja no botequim, no parlamento ou na academia, é deslocada e sem consecução.

O correto e sensato seriam todos estarem se movimentando para exigir que a Carta fosse cumprida e que a data do plebiscito fosse marcada.

Em isto ocorrendo, a discussão faria sentido e as partes poderiam exercer o seu direito de dizer sim ou não, com base no mérito a ser esclarecido por aqueles que se vêem em condições de prestar os devidos esclarecimentos.



Retirado do site www.parsifal.org

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Artigo do Economista Roberto C. Limeira de Castro, titular do blog www.obrasilnovo.blogspot.com

Quarta-feira, 15 de Agosto de 2007

As Sardinhas enlatadas e os abandonados do vácuo sem República

Os movimentos de criação de novos Estados represados por séculos, são as causas maiores do caos e da violência urbana e rural no Brasil, porquanto, vem obrigando metade dos brasileiros a viverem amontoados numa área equivalente ao Japão e a outra metade, abandonada num vazio territorial, equivalente a quinze Franças, ambas as populações, sem as instituições republicanas básicas.



Atento às discussões sobre a criação de novos Estados no Brasil há cerca de 30 anos, pudemos acompanhar os calorosos debates em torno da emancipação de Mato Grosso do Sul, Tocantins, Amapá e Roraima, além das frustradas tentativas de admissão à União Federal do Estados de Tapajós, Maranhão do Sul, Triângulo, Santa Cruz, Juruá e São Francisco durante a Assembléia Nacional Constituinte de 1988. Agora, acompanhamos e participamos intensamente do monólogo dos que desejam a emancipação de Carajás, Araguaia (ou Mato Grosso do Norte), Minas Norte e da criação de quatro Territórios Federais plausíveis, Marajó, Juruá, Solimões e Rio Negro.

Quando falamos de monólogo não estamos exagerando, porquanto, aos argumentos econômicos, sociais, técnicos, político-administrativos e geográficos dos que desejam um Brasil mais equilibrado, apenas se contrapõem às mistificações vazias e às mentiras deslavadas dos defensores de “status quo” e do atual estágio de esgarçadura do tecido social brasileiro.

Os argumentos dos dois lados são, absolutamente, os mesmos de há séculos. De um lado, os porta-vozes das cortes dos gigantescos e ingovernáveis territórios reclamando de que os movimentos não são do povo, mas, de uma elite interessada nos cargos públicos e em seus salários – e quem disso usa, disso cuida – e do outro, as legítimas lideranças libertárias, porquanto, receberam milhares de votos da população que representam, se esgoelam no parlamento para exigir melhorias diante do abandono a que estão submetidas os seus representados.

Pelo desfecho da história, os defensores do indefensável, mesmo levando uma sonora goleada histórica, manobram desesperadamente para ganhar o máximo de tempo que puderem nos seus privilégios de concentração de rendas. É o velho cabo de guerra entre os que almejam o progresso da humanidade e os que querem mantê-la no atraso, apenas vislumbrando a sua míope ótica individualista.

Quem se der ao prazer de ler as histórias do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e de Alagoas com relação à Capitania de Pernambuco encontrará o mesmo debate há dois séculos entre as elites da corte de Recife e a libertação dos visinhos extorquidos, após o açambarcamento em 1799 das três primeiras Capitanias e do movimento de emancipação das mesmas e da emancipação da Comarca de Maceió.

E assim, sucessivamente, ao longo de toda a nossa história. Porto Alegre se aliou a Desterro (atual Florianópolis) na emancipação de Santa Catarina e de São Pedro do Rio Grande (atual Rio Grande do Sul) na batalha contra o jugo dos paulistas e cariocas.

O Paraná somente emancipou-se dos paulistas, cerca de 120 anos depois da drenagem de suas economias, o mesmo acontecendo com Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso em relação à Capitania de São Paulo e do Piauí contra São Luis.

Assim, também, foi o sofrimento da emancipação do Amazonas em relação à Belém, de Rondônia e Mato Grosso do Sul em relação à Cuiabá e Tocantins em relação à Goiânia.

No caso das comarcas de Ilhéus e Porto Seguro que já tiveram “status” de Capitanias, além da comarca de São Francisco, a pendenga se arrasta pelos cinco séculos de nossa história.

São Francisco saiu das garras de Recife e foi presa fácil de Salvador, enquanto as duas ex-Capitanias do sul da Bahia, empobrecidas pelos ataques dos Aimorés, foram simplesmente tragadas pelo apetite fiscal dos Governos Gerais da Capital baiana.

Menos sorte não teve a comarca de Paracatu nos sertões da Farinha Podre (região do triângulo mineiro), que imprensada entre quatro gigantes, Pernambuco ao norte, Goiás a oeste, São Paulo ao sul e Minas Gerais ao leste, ficou trocando de exatores das receitas fiscais públicas até os dias atuais. Mesmo assim, os “triangulinos” não desistem da criação do seu Estado.

Apesar dessas inúmeras vitórias e derrotas históricas acima citadas, o Brasil tem muito que realizar nesse campo da concentração territorial como extensão inequívoca da concentração de riquezas e da espoliação fiscal.

A concentração territorial que leva à concentração de terras, de latifúndios, de riquezas e da população amontoada em exíguos nichos urbanos do país tem sido ao longo dos séculos a principal responsável pelo atual estado caótico, de exclusão social e violência das grandes áreas metropolitanas brasileiras.

Extorquidas dos seus direitos mínimos às instituições republicanas, à democracia representativa, à ordem e ao progresso estampados em nosso pavilhão auriverde e a uma vida digna, os brasileiros das áreas abandonadas migram em massa para a miséria e a exclusão social das favelas e guetos dos grandes conglomerados metropolitanos.

E de nada adianta os brasileiros ficarem esbravejando contra o banditismo galopante, chorando pelos seus milhares de jovens entre 20 e 25 anos trancafiados nas prisões, do caos aeroportuário, da falta de estradas, de saúde, de educação, de transportes urbanos, de polícia, de justiça etc.

Todo esse caos está diretamente relacionado com a arcaica, anacrônica e ultrapassada divisão territorial e político-administrativa do Brasil, cujo equacionamento se arrasta por séculos.

De nada adianta o Brasil ter um território, gigantesco, riquíssimo em recursos naturais, terras férteis, florestas imensas, minérios sem fim e rios caudalosos, se a sua elite, conservadora, egocêntrica, caolha e hipócrita, continua espremendo os seus filhos desprotegidos e sem cidadania em barracos fétidos e amontoados ou em presídios em petição de miséria.

E não tenhamos mais dúvidas a esse respeito. Os que defendem a atual conjuntura político-administrativa e territorial do país foram, são e serão, os únicos responsáveis por tudo de ruim que aqui descrevemos.

Os números falam por si próprios. Enquanto cerca de 95 milhões de brasileiros vivem, precariamente, sem as instituições republicanas em 97,7% do seu território, os outros 95 milhões se espremem em 2,3% ou cerca de 200.000 Km² no caos e na violência das 30 ou 32 áreas metropolitanas, com metade deles, também, sem os benefícios da República, já proclamada há 108 anos.

A Organização das Nações Unidos, já advertiu, oficialmente. Serão nove bilhões de seres humanos vivendo em sua maioria nas áreas urbanas em 2050, dos quais, mais de metade viverão em 375 mil favelas existentes no mundo. Na proporcionalidade, o Brasil terá 145 milhões de brasileiros vivendo espremidos numa área menor que o Japão e a outra metade no vazio de 15 Franças.

Essa é a cruel conjuntura que cerca de 100 heróicos brasileiros da Frente Parlamentar pelo Re-ordenamento territorial e político-administrativo do Brasil tentam aperfeiçoar no Congresso Nacional e denunciar à população brasileira.

Quarenta e três anos passam como num passe de mágica. Por favor, senhores governadores, senadores, deputados, ministros e o Presidente da República e principalmente, os concentradores de riquezas, não vamos mais esperar meio século e inviabilizar o país em todos os sentidos para sempre.


Roberto C. Limeira de Castro

sábado, 13 de outubro de 2007

Veja quem está conosco nessa luta, além, claro, de alguns articulistas que já manifestatam suas opiniões neste blog..





“ A re-divisão territorial na Amazônia é considerada o maior programa de desenvolvimento regional pela Câmara dos Deputados. A razão disso é porque a criação de novos Estados busca fortalecer a democracia e descentralizar o poder. Os empresários se declaram a favor da criação porque não sofrem nenhum boicote dos incentivos fiscais e da receita estadual. Além disso, a imprensa também divulga porque não sofre pressão do governo para retirada dos investimentos em propaganda”.
(Professor Edivaldo Bernardo, doutor em Filologia Clássica e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).



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“Sabemos que os estados do Sul, Sudeste e do Nordeste têm em média uma área de 200.000 km², o que permite um bom desenvolvimento. Mas um estado como o Amazonas, com 1.600.000 km², jamais poderá ensejar a seus diversos municípios um desenvolvimento eqüânime. O mesmo ocorre com o Pará.E é muito forte a movimentação no oeste do Pará em favor da redivisão com a criação do Estado do Tapajós. Sempre enfatizamos que todo latifúndio tende a ser improdutivo. Na verdade, estados gigantescos como o Amazonas, o Pará e Mato Grosso nada mais são do que grandes latifúndios e, portanto, com essa dimensão, teremos sempre um país com um litoral que cada vez mais se desenvolve e um interior que se desenvolve cada vez menos.” (Senador Mozarildo Cavalcanti,PTB-RR).

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“Se o modelo atual do Estado estivesse correto, durante esses quatro séculos de existência, com certeza todas as regiões do Estado estariam bem desenvolvidas, com a infra-estrutura e qualidade de vida que todos nós queremos e pela qual temos lutado. A dimensão territorial é um fator que precisa ser levado em conta, pela sociedade e principalmente por quem administra com pouco recurso. Se tivéssemos outra saída era uma beleza, não precisaríamos ficar discutindo isso ou tendo que enfrentar questionamentos todo dia sobre esse assunto.O problema é que não temos outra alternativa. Temos, sim, o dever de encarar o assunto com a seriedade que ele requer, sem o medo de nos expor ou de perder voto. Estamos numa encruzilhada e precisamos tomar uma decisão – não é a idéia de dividir por dividir, mas, assumirmos a postura da opção pelo desenvolvimento dessas regiões ou fadá-las a estagnação econômica e social, pelo medo de encarar uma questão séria e importante, porém delicada e polêmica.Não existe em nenhum país civilizado e desenvolvido do mundo, unidades federadas com a dimensão territorial do Pará, Amazonas, Mato Grosso etc.Isso aqui, ainda é a marca da colonização portuguesa que as vezes criticamos chamando-a de atrasada, que a sociedade que nós chamamos moderna ainda não conseguiu remover, adequando às nossas realidades e necessidades atuais.Todas as experiências sobre re-divisão territorial no Brasil foram bem sucedidas, tanto as antigas quanto as recentes: São Paulo/Paraná; Mato Grosso/Mato Grosso do Sul; Goiás/Tocantins etc.Contra fatos não há argumentos, não há necessidade de ficarmos querendo reinventar a roda ou descobrir o sexo dos anjos. Basta sermos pragmáticos e sinceros conosco mesmos. Por que não fazer uma constatação “in loco” por exemplo – com relação ao desenvolvimento experimentado pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul após sua separação ou Goiás e Tocantins que são casos mais recentes?Não acho justo que uma região do Estado tenha que bancar a outra. Todas as regiões têm condições de trabalhar e de se auto -sustentar. Todavia, hoje, mais de 80% da arrecadação do Estado se concentra na região Norte/Nordeste, que tem que cobrir grande parte dos custos do governo com o Sul/Sudeste (futuro Carajás) e Oeste/Sudoeste(futuro Tapajós), apesar de serem regiões com grande potencial de riqueza. Essas regiões passíveis de separação enfrentam grandes problemas que por sua natureza exigem presença efetiva e permanente de governo. Por exemplo, problemas agrários e de regularização fundiária; seríssimos problemas com relação às questões e políticas ambientais; evasão de divisas; tráfico e produção/beneficiamento de drogas; violência e impunidade, etc.2).Se desmembrarmos do Pará, o futuro Tapajós e o futuro Carajás, o estado remanescente ficará com uma área aproximada de 255.000 km2. Portanto, maior, ainda, que o Estado de São Paulo, com uma infra estrutura rodoviária, hidroviária, portuária, aeroportuária, de energia elétrica, de comunicação, hospitalar e universitária completamente prontas, quase que sem demandas de altos investimento para os próximos anos, concentrando 67% da população/censo 2000 ( cerca 4.105.000 habitantes), arrecadando mais de 80% dos impostos do estado hoje, com uma economia forte baseada na agricultura ( dendê e grãos ), pecuária bovina e bubalina, pesca em escala industrial, turismo abundante e um FPE ( Fundo de Participação dos Estados ) fabuloso, face a sua grande população, além de uma expressiva bancada federal empenhada na captação de recursos para investimentos num estado relativamente pequeno e com uma infra praticamente pronta. Em havendo uma divisão, o ganho para o estado remanescente é imediato e fantástico. O desenvolvimento no sentido vertical terá tudo para ser rápido e forte, melhorando a qualidade de vida da sociedade carente em tempo recorde, pois o governo terá condições para fazer isso, como nunca. Nenhuma das áreas que pretende emancipação, necessita construir uma cidade para servir de capital (sede do governo) como ocorreu no Tocantins e nem por isso se gastou tanto, inviabilizando o novo estado.Um novo estado tem que investir rapidamente é na construção de sua infra -estrutura para atrair investimentos e produzir desenvolvimento. Na história da sociedade, ela sempre fez as coisas de acordo com as suas possibilidades, no estágio atual creio que não será diferente. Edifícios e cargos burocráticos sem necessidade, são características de estados velhos e onerosos para a sociedade. É evidente que teremos custos. Tudo que se faz tem um custo.Agora o que não dá pra comparar é a relação custo – benefício, de uma máquina administrativa. nova, eficiente e enxuta, com um estado velho oneroso. com uma máquina administrativa cansada e improdutiva, isto sim, é mil vezes pior e muito mais caro para o contribuinte. Por outro lado, o governo federal, não está e nunca esteve disposto a gastar dinheiro com a criação de novos estados. Cada um deve procurar se arranjar com o que tem, quando criado, equacionando suas despesas com as suas receitas, sempre foi assim. Com certeza não será diferente agora. No caso do Tocantins, só após 12 anos de existência é que começou a receber algum recurso para apoiar sua implantação. Já pensou, sendo uma região economicamente fraca, teria morrido ao nascer, mas teve competência para se estabelecer. (Deputado Federal Zequinha Marinho, PMDB-PA).
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:"Nós também queremos um Pará grande no tamanho, no desenvolvimento, na assistência social, onde a população tenha acesso a tudo. Grande no transporte, na educação, saúde e na dignidade do povo. Por essa razão é que estamos promovendo, propondo, discutindo e apelando a esta casa para nos dar a oportunidade do plebiscito, porque queremos um Pará grande para todos e não apenas para alguns"( Deputado Federal Lira Maia (DEM-PA).


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"Entendemos que uma sociedade justa, moderna e democrática só poder ser construída se os cidadãos tiverem respeitado o direito de decidir sobre os destinos dessa mesma sociedade" (Manifesto da Associação Comercial e Empresarial de Santarém).



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“A questão que está sendo tratada é a da emancipação regional. Não estamos em estado beligerante, pegando no fuzil e na metralhadora para dizer que é separatismo. Os que usam a expressão separatismo se apóiam num termo forte para contradizer o procedimento da emancipação. Outra coisa: a emancipação regional do Tapajós é apenas uma das outras 15 em todo o País cujos projetos tramitam no Congresso Nacional. Ela trata de uma ação de plebiscito, que é democrático, baseada no artigo 18, parágrafo 3º da Constituição Federal, combinado com o artigo 12 e também com o artigo 49, da competência do Congresso. Estivemos por lá, trabalhando nos últimos 23 anos, defendendo a emancipação mista do Tapajós. Então, nós estamos há 23 anos fazendo a história, e não começando isso agora, como querem dar a entender (Odair Corrêa, Vice-Governador do Estado do Pará).

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São séculos de tentativas frustradas de administrar um território maior do que muitos países. É chegada a hora de estas regiões terem o direito de decidir por um caminho diferente da exclusão e miséria social " (Olavo Neves, ex-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém).

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“Quando estudava Geografia, o Estado do Mato Grosso era um mundo. Cabiam duas Europas dentro dele. Ele foi dividido e o Mato Grosso do Sul cresceu. Goiás? Era grandão, enorme. O Estado foi dividido e surgiu o Tocantins, que cresceu, assim como Goiás. Os dois cresceram, como os Estados de Mato Grosso (e do Sul). É hora de dividir o Pará (que é muito grande). O Maranhão quer. Isso possibilita uma melhor administração. O México, que é bem menor que o Brasil e tem hoje 35 unidades federativas, enquanto o nosso País tem 27 unidades federativas. A a criação de outros Estados fariá aproximar o desenvolvimento e o crescimento do País” (Senador Mão Santa, PMDB-PI)..

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"É preciso reconhecer que quem tem o maior interesse na questão são os moradores das regiões afetadas, por isso a importância de consultá-los se desejam ou não a mudança e, em caso afirmativo, viabilizar os meios para atender o desejo de emancipação política dessas populações . A Assembléia Legislativa do Estado do Pará não pode ficar alheia aos movimentos que buscam a redivisão territorial como projeto de desenvolvimento regional para o Pará e para os novos Estados, nem pode assistir passiva aos que querem impedir o direito do povo se manifestar.Há a necessidade de elaboração de novos estudos e também da ampla divulgação de seus resultados à população paraense, para que o processo de criação dos novos Estados possa ocorrer dentro de um clima de entendimento, que deixe de lado as paixões históricas e faça com que os cidadãos envolvidos cheguem à decisão mais acertada" (Deputado Estadual Alexandre Von, PSDB-PA).


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“Eu acho que a gente já tem bons exemplos, como o caso do Tocantins, e assim vai ser também com o Estado do Tapajós, que vocês pleiteiam. Nós estamos aqui para dar todo o nosso incentivo e apoio que estiver ao nosso alcance”,( O deputado federal Frank Aguiar (PTB-SP).


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“ a criação do Estado do Tapajós vai favorecer o desenvolvimento dos municípios da região oeste paraense. Criando um novo estado haverá mais possibilidade de investimentos nessa região, uma vez que ficará mais perto do governo estadual
(Vereador Manoel Diniz, Itaituba-PA).

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“ Para que o Estado seja bem gerenciado, é preciso que o povo participe efetivamente desse processo. E isso, só é possível quando os gestores estão mais próximos do povo, dos reclamos populares. “Isso é um princípio de gestão pública, de organização administrativa.”( Deputado Geovanni Queiroz ( PDT-PA).




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“ A possibilidade de autonomias administrativa, financeira e econômica, certamente irá facilitar para o povo que paga seus impostos em dia tenha o retorno. O governo atual está vindo para consultar a respeito do planejamento, ainda assim, demora muito a chegar. Muito dos nossos representantes sequer conhecem a região, não conhecendo a região não conhecem a realidade da nossa gente, do nosso povo. Os argumentos daqueles que se colocam contra, não são convincentes, e ao mesmo tempo muito frágeis.'Eles' não querem é perder 'uma boa fatia do bolo' (interesses econômico e político) isso é muito claro, se eu vivo numa região, se conheço a realidade, vejo o quanto essa região potencialmente pode se desenvolver, porque crescida, ela já está, então não tem porque retardar. (Ana Calderaro,Presidente da OAB, Subseção de Santarém--PA).


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”A Amazônia brasileira, e especialmente no Pará, a questão da extensão territorial e das ineficiências dramáticas para o povo recomendam, sem nenhum prejuízo para os remanescentes do estado do Pará, que se funde o estado do Tapajós”( Deputado Federal Ciro Gomes (PSB-CE).


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“Defendo, de forma intransigente até, a criação de novos estados no Pará e na Amazônia. Acredito, também, que já poderíamos ter conquistado a tão sonhada emancipação política, se fôssemos mais ousados. Quando se tem um sonho e se acredita nele, é preciso ousar, lutar cada batalha, a cada dia, para transformar este sonho em realidade. . Sempre fomos vistos como números de eleitores em uma planilha eleitoral. Pior, não como eleitores que decidem, mas como um adendo, uma ajuda, um pouco de votos a mais nas urnas, alguém para ser ouvido, mas nunca atendido.Chega de nos ouvir e pedir a nossa participação. Este povo clama pela solução de seus problemas há anos, décadas e séculos. . Criar novos estados não é diminuir, regredir, mas multiplicar e distribuir. Multiplicar nossa representação política, os empregos, as escolas, os hospitais e as oportunidades de um futuro diferente da exclusão e pobreza. Dividir as riquezas, a renda, as responsabilidades e os resultados. Basta de dizer que a redivisão vai acabar com o Pará. Ele já está acabado, pois assim deve ser considerado um estado que não consegue dar dignidade aos seus habitantes. Ele já está fragmentado, rompido, apartado. Durante tantos anos, a classe política se mostrou totalmente inepta e incompetente para administrar tamanho território. E não há o menor indício de que isso vá mudar agora. E nem depois. Pelo contrário, continuamos a ser colônia, para a exploração alheia. Sangue que alimenta o vampirismo daqueles que não querem, isso sim, perder seus privilégios. Por fim, precisamos ousar. A ousadia é uma arma dos fortes. E precisamos ser fortes, inclusive, para enfrentar os covardes de nossas próprias regiões. Precisamos de coragem para enfrentar os adversários conhecidos, mas também os verdadeiros cães que latem a favor dos novos estados, mas mordem, na calada da noite, traiçoeiramente, os que defendem este projeto (Jornalista Paulo Leandro Leal) .


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“Hoje a redivisão do Brasil é imperativa e inadiável. Somente no ano de 2006, o Tocantins exportou mais de US$ 150 milhões em produtos agropecuários, ajudando assim no processo de desenvolvimento do Brasil
.(Senador Leomar Quintanilha, PMDB-TO).


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“Mais do que necessário, é urgente a criação de três Estados: o do Maranhão do Sul, o de Carajás e o de Tapajós. A criação dos três Estados vai, em primeiro lugar, possibilitar uma melhor redistribuição da população. Em segundo, revelar novos potenciais econômicos. (Ex-senador Siqueira Campos PSDB-TO).

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“Face aos comentários surgidos, especificamente aqueles que tentam denegrir a participação do Deputado SINÉSIO CAMPOS e do VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DO PARÁ, ODAIR CORREA no evento, queremos externar a todos os nossos irmãos paraenses nossa irrestrita solidariedade e nosso mais profundo respeito por estas autoridades que nada mais fizeram senão defender a realização do Plebiscito, sem se acovardar por pressões mesquinhas.
Queremos lembrar a todos que se dizem representantes do povo, na condição de senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e toda e qualquer autoridade que o PLEBISCITO é um ato legítimo, inquestionável, garantido pela Constituição Brasileira e, indubitavelmente, é a maior manifestação dos princípios democráticos de uma nação.
Portanto, negar este direito é negar a própria soberania de um povo, é insurgir-se contra a vontade de uma população que quer sim o direito de construir seu próprio futuro, que cansou de ser filho bastardo do governo do Estado do Pará.


Salve o ESTADO DO TAPAJÓS!


Em Manaus, Amazonas, 22 de agosto de 2007.

UNASP – UNIÃO DAS ASSOCIAÇÕES PARAENSES EM MANAUSEduardo Paiva -PresidenteAFAS – Associação dos Filhos e Amigos de Santarém

Ademar Ferreira - PresidenteASBRAM – Associação dos Belterrenses Radicados em Manaus

Paulo Edson Santos – PresidenteMAJ – Movimento Amigos de Juruti

Lúcio Vieira - PresidenteAFAO – Associação dos Filhos e Amigos de Óbidos

Stones Machado – PresidenteASPRIMO – Associação dos Primos de Oriximiná

Ana Lucy B. da Silva - PresidenteUNIÃO DAS ASSOCIAÇÕES PARAENSES EM MANAUS

ASBRAM – AFAS – MAJ – AFAO - ASPRIMO

Rua Áden, q/41 no 31 – Anexo - Campos Elíseos69.045-590 – Planalto Manaus – AM.Fone: 92 3656-5429

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Artigo do Prof. Dr. Gilberto de Miranda Rocha, da UFPA

Amazônia Redividida:

INTRODUÇÃO

Uma viagem ao passado da Amazônia demonstra o quanto a redivisão territorial tem sido uma questão que se renova e muitas vezes se amplia, em diferentes momentos da vida política brasileira e com diferentes significados e justificativas. Algumas dessas justificativas fazem parte dos argumentos de praticamente todos os movimentos emancipacionistas de âmbito regional tais como: a grande dimensão territorial, o que inviabiliza a administração e prestação adequada dos serviços públicos, a desigual distribuição e alocação de recursos, o controle e a defesa do território e das fronteiras e, portanto, a necessidade de ampliação da presença do Estado, defesa nacional, ampliação da representatividade política regional, a estadualização como alavanca para o desenvolvimento regional, etc....E, outras recentemente incorporadas como a necessidade de controle do narcotráfico, as guerrilhas fronteiriças.

No presente trabalho procuramos refletir sobre a redivisão territorial da Amazônia, e particularmente sobre as propostas de divisão do Estado do Pará, focalizando dois aspectos subjacentes a esse processo de partilha territorial: a dimensão econômica da redivisão, i. e. o que estimula essencialmente em termos dos recursos existentes nos territórios e a dimensão simbólico – cultural através da qual se fundamenta a apropriação coletiva do espaço. Antes porém, refletimos sobre o reordenamento espacial do território, sobre as mudanças nas formas de apropriação e uso dos territórios induzidas pelas políticas públicas federais para a região nas ultimas três décadas. Ainda visando criar bases para a melhor compreensão das propostas, procuramos focalizar as mudanças sócio – culturais – emergência de novas territorialidades - e político-institucionais – alteração nas formas e mecanismos de gestão - desfechadas no Estado nas últimas décadas. Além desses aspectos, o presente trabalho pretende contribuir para aprofundar a reflexão sobre alternativas a divisão territorial assim como as atuais formas de gestão territorial: uma terceira via ?

1.O ParÁ sob intervenção : a federalização e a reestruturação espacial do território estadual

1.1. A estrutura espacial do território estadual ate a década de 1960

A compreensão dos processos de emancipação político – territorial – criação de novos estados – a partir da redivisão do Pará implica o resgate dos processos recentes de reordenamento espacial do território estadual. Nas ultimas três décadas, os processos de intervenção federal induziram a mudança da estrutura espacial herdada e construída a partir do período colonial.

Até a década de 60 a dinâmica espacial regional espelhava o funcionamento da economia baseada na exploração extrativista e alicerçada no sistema de aviamento e tendo como suporte a existência do produto, uma rede de núcleos e a circulação fluvial. A bacia hidrográfica desempenhava papel fundamental na estruturação da vida econômica como eixo de penetração, circulação e povoamento.

Entre o final do século XIX e primeira metade do século XX, o boom da borracha, e as sucessivas fases de exploração extrativa (caucho, castanha, borracha), a economia extrativista estimulou a produção de uma estrutura espacial que articulava os locais de extração / produção no interior do território com os centros exportadores de Belém através de uma rede de localizações, pequenos núcleos urbanos de povoamento cuja função primordial era, além de servir de moradia para a força de trabalho, pontos de comércio e concentração da produção na bacia hidrográfica, extrair o excedente econômico gerado(Correa,1992). Essa estruturação espacial na Amazônia se iniciou com a fundação de Belém, cidade estratégica e excentricamente localizada em relação a hinterlândia, a cidade primaz. Como ponto de abertura e penetração do território, constituía a sede das principais funções políticas e econômicas, do comercio atacadista e exportador, possibilitando a participação da região na divisão internacional do trabalho.

No Estado do Pará, esse sistema espacial condicionou o processo de produção, circulação da borracha (1890-1910), da castanha do para(1926-1964), de povoamento e de estruturação das principais cidades(Belém, Santarém e Marabá), concentrando a população na calha dos principais rios – Amazonas, Tocantins, Xingu e Tapajós. No âmbito desse sistema espacial, o controle sobre o território, sobre a produção, circulação, sobre a forca de trabalho envolvida assim como o excedente econômico gerado,era alicerçado em uma estrutura de poder oligárquico (Emmi,1988).

1.2. O reordenamento espacial do território estadual

A segunda metade da década de 60, representa um marco do ponto de vista do reordenamento político – institucional assim como das transformações espaciais e territoriais na Amazônia oriental. No âmbito das mudanças de ordem política e institucional do Estado brasileiro pós – golpe militar de 1964, são lançadas as primeiras medidas de política com o objetivo de assegurar a ação federal na região de forma efetiva. A “operação amazônica”, em 1968, redefiniu o arcabouço institucional regional ao criar a Sudam e o Incra. Posteriormente, em 1971, através do Dec. Lei n. 1164 / 71, são federalizados cerca de 66% das terras do território do Estado do Pará.

No período entre 1971 a 1987 o processo de distribuição e de regularização da apropriação das terras ocorreu sob a égide do Incra. Ao federalizar o território, o governo federal alijou as oligarquias regionais do poder de distribuição de terras, dado que retirou do controle estadual a regularização das terras, suprimiu a existência de terras comunais e devolutas para a instauração da propriedade privada e negou as posses imemoriais dos grupos indígenas, caboclos e ribeirinhos e ainda obstruiu o processo de ocupação não – controlada de terras devolutas. A ocupação seletiva das terras constituiu no principal mecanismo de gerencia territorial do Incra. Somente 26% do território permaneceu sob o controle do governo estadual.

No mesmo período, através de políticas de integração nacional e planejamento do desenvolvimento regional, (Pin, Proterra, Polamazonia e Programa Grande Carajás) abriu a região ao integrá-la através de eixos rodoviários, ao criar mecanismos institucionais de incentivo a apropriação privada das terras, a diversificação das atividades econômicas – agropecuária, mineração e industrialização – e ao desestimular a economia extrativista que assegurava o funcionamento da economia regional.

O estimulo a migração através de políticas de atração populacional constituiu mecanismo em vistas a formação de um mercado de trabalho regional. Somente no Estado do Para, ao longo da rodovia transamazônica, instituiu três projetos integrados de colonização através de uma concepção urbanística de base rural.

Em vinte anos de intensas transformações, as políticas públicas reordenaram espacialmente o território estadual. Em 1970, existiam cerca de 83 municípios no Estado do Para. Como parte desse processo de reordenamento, a ocupação seletiva da terra estimulou a urbanização do território. Novos núcleos urbanos surgiram, seja como expressão planejada dos grandes projetos, as company towns, as agrovilas, agrópoles e rurópolis, seja como fruto do povoamento espontâneo e das contradições das políticas de desenvolvimento implementadas. Até 1996, havia sido criado cerca de 60 novos municípios, totalizando hoje 143 unidades político – administrativas.

O que é relevante nesse processo de reordenamento espacial do território estadual é o fato de que as novas formas de apropriação e de uso do território e de dominação política deram ao Estado do Pará uma nova configuração. A magnitude e a intensidade da intervenção federal transformou a estrutura e a dinâmica espacial estadual, posto que alterou a base material – geográfica anterior e afetou os circuitos de produção e acumulação tradicionais, desestruturando os atores sociais pré-existentes e seu poder político. O território estadual se reestruturou na medida em foram introduzidas novas atividades, novos padrões demográficos, o surgimento de novas cidades, transformando o padrão de hierarquização do sistema espacial e da rede urbana regional.

Em outro plano, as formas capitalistas de divisão técnica do trabalho que se implantaram, junto com a chegada dos fluxos migratórios de caráter heterogêneo desde o ponto de vista de sua composição demográfica, social e econômica, trouxeram como conseqüência à reestruturação do sistema de classes sociais e a complexificação sociedade civil. O especifico a reter é que, as modificações econômicas e sócio – políticas desencadeadas, levaram ao declínio os arranjos espaciais e as formas de dominação política construídas historicamente, demandando a construção de novos de novos pactos e o estabelecimento de novos laços entre os atores partícipes da nova realidade em formação ou mesmo demandar a construção de novas identidades territoriais. No sentido político do termo, essas mudanças, no atual contexto histórico, pode se associar às novas necessidades de remodelagem das estruturas político – administrativas. A complexificação das estruturas de classe sociais, os conflitos pelo poder, os movimentos sociais podem demandar novas figuras político – institucionais que produziriam novas normas, ordens e legitimações, para dar organicidade à nova estrutura espacial e territorial construída através do processo intervencionista. a transformação político – institucional.

2.O ParÁ dividido

2.1. O contexto histórico de emergência dos movimentos emancipacionistas

As propostas de criação de novos estados – Tapajós e Carajás - a partir da redivisão do território paraense, surgiram em um contexto histórico marcado pelo processo de redemocratização da sociedade brasileira, um contexto, a um só tempo, de crise e reestruturação das relações entre o estado e a sociedade. No âmbito nacional, na década de 80, de um lado, ocorre o aprofundamento da crise fiscal do Estado que vem a contribuir para a obsolescência econômica do Estado Nacional, expressa na ineficácia do governo federal no controle inflacionário e em tornar efetiva a sua ação planejadora . Ocorre uma retração significativa das políticas publicas regionais. Por outro lado, o país vivenciava, a falência do regime militar cuja expressão é perda progressiva de legitimidade frente a sociedade brasileira.

Na Amazônia, a intervenção federal que durante o regime militar, promoveu mudanças substanciais na base econômica e nas formas de organização sócio – política regional enfraquece. Intensos conflitos em torno do acesso a terra, o acirramento dos movimentos sociais frente a seletividade social, a concentração espacial e setorial dos investimentos e o depauperamento das obras de infra-estrutura e dos serviços públicos são expressões da falência da gestão estatal – nacional no espaço regional. Frente a instabilidade, o Estado procurou redefinir suas formas de ação regional.

A federalização do território, as poucos, é substituída por um processo de ação compartilhada entre os níveis de governo, para a qual se buscou o revigoramento do poder local e regional. O fortalecimento dos municípios – pólos, centro sub-regionais e a municipalização do território constituíram medidas de política que visaram, entre outros aspectos, a implementação de uma nova ordem política e institucional. Segundo Rocha (1999), o município constituiu instrumento tanto para o restabelecimento dos sistemas hegemônicos locais, redefinindo assim as alianças entre os atores políticos no âmbito do novo cenário econômico, político e territorial do estado do Pará quanto uma tentativa de restabelecer o controle e a regulação social. Um momento ímpar na busca da re-legitimação do Estado frente a sociedade regional.

Ressalta-se que, conforme Rocha (1999:76) “é em meio a esse revigoramento do poder local e regional e de mudanças na base econômica e política local que emerge os movimentos separatistas dos estado do Carajás e do Tapajós ”. O movimento constituinte de 1986/87 vem igualmente constituir o mecanismo institucional através do qual buscar-se-á a autonomia política.

2.2. A dimensão econômica do(s) território(s)

Os movimentos emancipacionista representam a expressão política e territorial do reordenamento espacial, econômico e sócio – político do território estadual. As mudanças processadas ensejaram o reordenamento dos sistemas hegemônicos locais e regionais com implicações no realinhamento das alianças entre os atores presentes na região. Trata-se de movimentos que almejam a apropriação política do território, como meio para tingir objetivos e interesses subjacentes as suas praticas espaciais.

“representam em outro patamar conflitos pelos meios, pela implantação de recursos de exploração e pela apropriação dos benefícios e dos excedentes econômicos ali gerados, assim como apontam para a necessidade de estabelecimentos de novas formas (e reafirmação de antigas) de dominação político – social através da difusão de novos valores, símbolos e de afirmação de novas territorialidades. Trata-se de um processo de consolidação de territórios legitimadores das novas redes econômicas e / ou dos novos (e, em certas situações, também os velhos) interesses políticos”(Rocha,1999:229).

e, ainda enfatiza o autor,

“igualmente, apontam para a recomposição das relações de forcas emergentes na área, em que a divisão do território seria um meio de legitimação / legalização da apropriação e da definição de domínios territoriais por essas mesmas forças dominantes”(Rocha,1999:230).

Em que pese as dimensões culturais e sócio - espaciais – expressões das mudanças processadas na estrutura espacial do território estadual - subjacentes as propostas, a emancipação, a rigor, vem a se constituir um pretexto, tanto como forma de captação de recursos – instrumento de barganha política da(s) elite(s) regional(is) (o mito da necessidade) - quanto a possibilidade de construção de canais legais de legitimidade da apropriação dos recursos territoriais por essas mesmas elites.

Tab. N. 01. Para, Tapajós e Carajás: Os recursos e os Territorios

Os recursos e os Territórios

Para

Tapajós

Carajás

Área territorial

249.000 km2

708.868 km2

289.799 km2

População

4.000.000

958.860

1.100.000

Áreas de uso restrito (unidades de conservação e terras indígenas)

13

22

14

Icms (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços)

79,49 %

7,0 %

13,51 %

Fpe (Fundo de participação do estado)

491.597.016[2]

115.365.280

137.629.573

Recursos

Industria, serviços e agropecuária

Minérios e agropecuária

Minérios e agropecuária

Fonte: Governo do Estado do Pará: Indicadores Sócioeconômicos, 2000.

2.3.O uso político do território: a produção política do consenso em torno da emancipação

A territorialização envolve sempre, ao mesmo tempo, mas em diferentes graus de correspondência e intensidade, uma dimensão simbólico – cultural, através de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de “controle” simbólico sobre o espaço onde vivem, e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: o domínio do espaço pela definição de limites e fronteiras visando a disciplinarização dos indivíduos e ao uso / controle dos recursos ali presentes[3]. No âmbito do processo político de projeção territorial, essas duas dimensões se entrecruzam dando a cada uma das propostas uma singularidade que se substantiva na diferença contida no território, na projeção sobre o espaço “de estruturas especificas de um grupo humano, que inclui a maneira de repartição, de gestão e de ordenamento desse espaço”(Brunet et al,1992:436 apud Claval,1999:11) e, ao mesmo tempo, na cristalização de representações coletivas, dos símbolos que se encarnam em lugares nos quais estão inscritas as existências humanas (Claval, 1999:11).

2.3.1.O poder disciplinar: o controle, a defesa e o estímulo a ocupação efetiva do território.

A divisão territorial da Amazônia, ao longo do presente século, tem sido uma questão recorrente não somente no marco da discussão e de propostas como igualmente na efetivação da divisão. Pode-se mesmo dizer que a atual configuração político administrativa é recente e fora moldada a partir de 1911 com a questão acreana. Naquela ocasião a apropriação do excedente econômico gerado pela economia extrativa da borracha mobilizou parlamentares e as elites tanto do Pará como do Amazonas. A federalização do território foi a solução à época encontrada. Na década de 40, novamente partilhar a amazônia foi objeto de ampla discussão no âmbito da organização do Estado brasileiro e da integração e de manutenção da integridade do território nacional. Os anseios geopolíticos de controle territorial e das fronteiras elevariam a divisão territorial como medida visando estimular a ocupação e ao povoamento regional. A criação de postos de vanguarda nas fronteiras, ampliar a presença do estado federal, de federalizar parte dos territórios estaduais justificava-se.

Getúlio Vargas estimulado pelo Conselho de Seguraça Nacional, através do decreto-lei n. 5.812, de 13 de setembro de 1943 cria os Territórios Federais: Guaporé (Rondônia), Amapá e Rio Branco (Roraima) na Amazônia. A preocupação com a imensidão territorial e o vazio demográfico amazônico sempre foi ponto de convergência entre ideólogos e geopolíticos e os militares. A divisão territorial tem sido assim um meio de indução da civilidade, da apropriação real e efetiva do território pela nação-estado, parte integrante da construção territorial do Estado Nacional. Como mecanismo jurídico e político, a divisão do território era (e é) parte integrante da organização geográfica do Estado, do controle, da administração e da gestão territorial.

Esses mesmos princípios recentemente foram ressucitados, revividos em parte pelas recentes propostas. A leva de movimentos emancipacionistas nos quatro cantos do Brasil durante o processo constituinte de 1986/87, (somente no Pará foram dois: estado do Carajás e estado do Tapajós) induziu a criação, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, de uma Comissão de Estudos Territoriais(1989). O Relatório Final foi apresentado em janeiro de 1990. Foi recomendada a redivisão da Amazônia com a criação dos Territórios Federais do Rio Negro, Território Federal do Alto Solimões (dividindo o Amazonas), o Território Federal do Araguaia (dividindo o Mato Grosso) e a criação do Estado do Tapajós (dividindo o Estado do Pará).

2.3.2.a dimensão simbólico – cultural e a construção da identidade territorial

Os lugares, as regiões são “freqüentemente fontes de identidade coletiva e também de atividades econômicas”(Brunet et al.,1992:232), fontes de recursos, de possibilidades de reprodução biológica e sócio – cultural. Como suporte material e base simbólica, o território constitui instrumento indispensável a construção das identidades coletivas.

Dessa forma, freqüentemente, ao nos referirmos ao Oeste do Para e Baixo amazonas(Tapajós) e ao Sul e Sudeste do Para(Carajás), nos referimos a espaços diferenciados, singulares no âmbito do território estadual. As propostas de criação de novos estados são projeções territoriais, são manifestações coletivas – coordenadas ou não - que acenam distintamente para a apropriação política do seu espaço de vivencia e produção – apropriação e uso dos recursos contidos. O espaço e a cultura participam desse processo dado que representam o suporte material (legado ou construído) e a base simbólica sobre os quais são forjadas e construídas as identidades territoriais através da difusão de uma ideologia territorial.

A idéia de tradição e de cultura local e regional (presente no baixo amazonas, no tapajós) ou de pioneirismo dos desbravadores (presente no sul e sudeste do Para) contribui para elaborar a re – construção peculiar da historia local, conferindo-lhe unidade imaginaria. A idéia complementar de região, presente no ambiente construído ou não – nos lugares memoráveis, a terra natal, o espaço de vida e produção – “terra conquistada com esforço e trabalho, canaã”, “região em que todos tem um lugar ao sol” (sul e sudeste do Para) produz a noção de unidade territorial. A eficácia simbólica dessas idéias mobilizam a sociedade regional em torno do projeto emancipacionista. O uso político do território passa a ser, indiscutivelmente um instrumento de grande eficácia para atingir a unidade e o consenso em torno da região.

2.3.3.da alocação de recursos, da produção do território e do estimulo ao desenvolvimento regional

A alocação de recursos de forma mais eqüitativa tem sido a outra fonte de reivindicação para emancipação de territórios, em Estados ou mesmo em Territórios. No caso do Tapajós se releva a ausência de uma política específica para a região oeste do estado do Pará, exemplificada pela carência de infraestrutura. Enfatiza igualmente a fragilidade administrativa e a retirada de recursos do Oeste do Pará sem uma contrapartida real para a região. E, conclui, referindo-se às vantagens de representatividade política que a criação de novas unidades político-administrativas traria para o desenvolvimento regional e a ampliação da consciência política.

3. Pará, capital Belo Monte : a proposta de transferência da capital como instrumento geopolítico para conter a redivisão !

Nos anos oitenta, época de eclosão dos movimentos, conforme Rocha(1999), a partilha territorial representava uma forma peculiar de captação de recursos frente ao depauperamento das infraestruturas e do descalabro da oferta dos serviços públicos.

A projeção e a tentativa de apropriação política do novo território representou, grande instrumento de barganha que se traduziu na definição de investimentos de infraestrutura por parte do governo estadual, para neutralizar o movimento e promover a efetiva integração e manutenção da unidade política do território paraense” (Rocha,1999:77)

O ressurgir das propostas de criação dos estados do Carajás e Tapajós, estimulou o governo do estado a busca de alternativas à redivisão territorial. A Fundação Getúlio Vargas foi contratada na forma de consultoria para a realização de diagnóstico sobre a estrutura espacial e econômica e necessidades de recomposição. No diagnóstico, Belém se assevera como um problema para o comando da estrutura econômica e espacial do território estadual. A excessiva concentração das atividades em no entorno de Belém e a baixa integração estadual apresentava-se, de fato, como estímulo a desagregação territorial.

A partir de clássicos preceitos geopolíticos o governador Almir Gabriel propõe a transferência da capital do Estado do Pará para a localidade de Belo Monte (parte do município de Anapú, parte do município de Vitória do Xingu, na volta grande do Xingu. Ao centralizar geograficamente o poder político do Estado do Pará, a exemplo do Brasil ao construir Brasília, visava interiorizar a economia estadual, reordenando a distribuição das atividades econômicas e produtivas, redirecionando os fluxos e parte dos aportes demográficos concentrados em Belém, enfim estimulando como no passado recente a reestruturação espacial do território. A crença do governador residia no fato de que reordenando novamente a espacialidade estadual poderia conter o processo de redivisão territorial.

4. Considerações FINAIS: Para além da redivisão, por um projeto político REGIONAL!

As propostas de redivisão do Estado do Pará expressam processos de reconfiguração espacial e de rearranjo das relações de poder no âmbito estadual. Não são processos artificiais, são produtos legítimos de territorialidades emergêntes e que reivindicam a apropriação política do território, sobre os quais têm domínio. No entanto, é lícito considerar o fato de que a existência da diferença e da singularidade não necessariamente pressupõe a separação. Ao contrário do que ao longo desse século norteou a construção dos Estado-Nação, a homogeneidade linguística e étnica – cultural, o Estado pós – moderno deve operar pela diferença, pelo respeito a diversidade cultural e étnica existente. Nesse contexto, tanto as propostas de divisão como a transferência da capital do Estado do Pará, formulada pelo Governo do Pará, estão na contramão de uma gestão territorial que der conta da complexidade que hoje é o Pará. A sua unidade política e territorial somente poderá ser alcançada frente a uma ampla redefinição conceitual da identidade paraense, fundada na diversidade e não na homogeneidade.

Ademais, é importante ainda frisar que para tanto, refazer o processo de gestão territorial é urgente e indispensável. Um novo processo que seja tomado como princípio fundamental o poder popular, a participação da sociedade civil nos processos de decisão sobre o futuro de cada região do Estado do Pará. Uma espécie de federalismo à escala estadual. O governo do território não se resumiria às instituições locais (ainda que estas sejam fundamentais), mas a todas as formas de organização em níveis escalares distintos e da sociedade civil que, de forma negociada e interativa, participariam e competiriam na resolução dos problemas que envolvem determinado âmbito local e sub - regional. A tomada de decisão tende a ser concebida como resultado de um processo de interação entre atores individuais e/ou coletivos, atores esses que dispõem de representações diferenciadas no contexto da negociação. Isto quer dizer que tanto em nível interno a um determinado território como no seu relacionamento com outros níveis escalares de poder, a participação compartilhada passa a ser o norteador nas novas formas de governo do território. Os territórios organizados, assim, passam a exercer um papel completamente novo atualmente (Boisier,1996).

As possibilidades de desenvolvimento local e regional estariam ligadas à capacidade de organização que cada âmbito espacial tenha de acumular poder político, algo que se obtêm mediante o consenso político, o pacto social, a cultura de cooperação e a capacidade de criar, coletivamente, um projeto de desenvolvimento. A criação de poder político e de busca do consenso e pacto social local e regional torna-se relevante para a construção de um projeto político regional, instrumento indispensável na formulação de estratégias em vistas o alcance do desenvolvimento local e regional.