O GRITO DE ALERTA
Da varanda de minha casa todos os dias ao amanhecer vejo um espetáculo diferente. São centenas de crianças e adolescentes que devidamente fardados, hora enfileiradas hora aglomeradas, caminham apressadas em direção a um só destino. O colégio que se localiza há alguns quarteirões abaixo na mesma rua. Esta é uma rotina gostosa que me transporta em pensamentos aos campos verdes de nossas várzeas nas áreas pantanosas onde se formam os lagos. É lá que se vê também todas as manhãs os bandos de pássaros em revoada, abandonando o dormitório e seguindo em direção ao abrigo dos peixes para providenciar alimentação para seus filhotes. Faço então uma comparação: As meninas que vejo, são as garcinhas, os meninos são os biguás. Conversando, gesticulando e balançando a cabeça para todos os lados enquanto caminham, aceleram a secagem do cabelo que ainda está molhado, por conseqüência do banho matinal que geralmente se toma antes de se dirigir ao colégio.
No desenrolar dessa rotina, sou “acordado” e uma exclamação aflora em meus pensamentos. Quanta gente para alimentar! Estimulado então pelo espírito Patriótico, fico analisando o problema e procurando encontrar maneiras apropriadas para expor minhas idéias mesmo considerando que para isso tenho que divergir de pensamentos causando constrangimento entre as pessoas menos preparadas para aceitar que somos livres e essa liberdade nos dá o direito de expressar nossas preocupações para com o futuro das gerações que nos sucederão no decorrer da vida. Assim sendo, resolvo ir à luta para extravasar minhas opiniões, consciente de que, pelas suas insignificâncias, talvez elas nada representem.
Em um livro que tive o prazer de editar contando um pouco de minha estória, isto já há uns 10 anos atrás, declaro em certo trecho: sou adepto das atividades agrícolas e da pecuária por entender que as duas são tão importantes que deviam ter no Governo, prioridade absoluta por serem responsáveis pela alimentação e conseqüente sobrevivência de toda a humanidade. Hoje, com uma mistura de orgulho por ter falado sobre o óbvio e com certa preocupação por ver a imprensa nacional e internacional discorrer sobre esse problema com tanto ênfase, noto que o Governo que devia incentivar a produção de alimentos através das fontes aqui referidas, não se importa e ainda procura fórmulas mirabolantes para equacionar o problema, inclusive com a idéia fixa de tornar a nossa Amazônia, em uma região intocável.
Até que concordo que a Amazônia por ser na verdade o pulmão do mundo tem que ser a ferro e a fogo preservada. Dessa convicção eu não abro mão. Porém, entre preservar a ser intocável existe uma grande diferença. Se prevalecer esse critério, quem na verdade irá alimentar a grande parcela da população brasileira que vive neste território inclusive meus estudantes que hoje são centenas e que amanhã serão milhares e que tanto gosto de ver? Será que o Governo ainda não atentou para a gravidade desse problema? Ou será que está imaginando que a compra de votos institucional com o objetivo de perpetuar o seu mandato através dos programas populistas que incentivam a proliferação seja a solução mais viável para ajudar na alimentação dessa gente.
Alerta políticos de minha região. Uma vigilância maior impõe certa urgência para que nossos filhos e nossos netos não venham sofrer as conseqüências de uma ambição desmesurada pelo poder.
É preciso também descobrir se por trás do excesso de zelo para com as comunidades indígenas que estão tomando conta de todas as nossas fronteiras com reservas babilônicas, não existem outros interesses diferentes da preservação de nossas florestas. Os últimos capítulos do episódio desencontrado entre o Governo e o Comandante Militar da Amazônia ao discordar da retirada dos colonos da reserva Raposa Serra do Sol, deixam claro que aquele comportamento não era de uma posição particular do comandante, mas sim uma maneira de transmitir ao Governo uma mensagem de insatisfação das forças armadas pelas atitudes isoladas do Governo, colocando segundo ele, em risco a segurança de nossas fronteiras e conseqüentemente a Soberania Nacional. É, portanto, de se considerar as informações que tive de que na medida em que essas demarcações de reservas contínuas uma vez efetivadas poderão mais tarde ser transformadas em Nações Indígenas que em tempo breve ainda poderão reclamar sua autodeterminação em Estados Indígenas, idênticos aos outros Estados já existentes, inclusive fazendo parte integrante da República Federativa do Brasil com representação no Congresso Nacional.
E isso tudo, faz parte de um programa do Governo que tem a intenção de agraciar comunidades indígenas com grande parcela de todas nossas riquezas naturais e minerais e ainda autorizar a retirada de lá, de nossos colonos para que os índios que de primitivo só tem o nome, pois estão devidamente aculturados, possam desfrutar com mais freqüência dos paparicos do Governo, ou das reuniões com empresários para discutir a venda dos produtos das reservas, do que permanecer na aldeia pescando e caçando como seus ancestrais.
Por estas e por muitas outras razões, eu pergunto. Será que já não está na hora de se levar mais a sério a criação de nosso Estado do Tapajós não desperdiçando a oportunidade de mais uma fonte de vigilância em nossas fronteiras? Será que todos esses riscos que corremos em nome da preservação de nossas florestas não são suficientes para convencer nossos políticos de que precisamos ser mais inteligentes e que necessitamos chegar antes deles? Será que não seria mais fácil preservarmos nossas riquezas de maneira mais presente sem correr o risco de estarmos sendo enganados ou ludibriados? E se este Governo resolver de fato transformar toda a Amazônia e nossas fronteiras nessas reservas indígenas ou quilombolas obrigando-nos a desocupar a área, como serão produzidos os alimentos para nossas crianças?
Ao nosso entender temos duas opções. Primeiro convencer o Governo de que juntamente com seus programas assistencialistas, já se torna necessária para o Brasil uma política mais ríspida de controle de natalidade, e a outra é sugerir que em vez de tornar a Amazônia intocável-- o que deixa transparecer dúvidas sobre interesses escusos-- que se usem os programas de desenvolvimento sustentável para acelerar o crescimento desta imensa região e que permitem transformá-la no verdadeiro celeiro da humanidade, que será melhor aproveitada por nossos adultos de amanhã que são nossas crianças de hoje.
Óbidos, maio de 2008
miguelccanto@hotmail.com
www.obidos.com.br, em 09/05/2008.